terça-feira, 19 de setembro de 2017

Vera Lúcia de Angelis - OS ALICERCES CONQUISTADOS


OS ALICERCES CONQUISTADOS

Uma casa com luxo e toda comodidade desejada, nem sempre é garantia de felicidade.
Uma casa repleta de amor, cumplicidade e verdade, mas sem conforto pode também não ser suficiente para a felicidade.
Na verdade somos seres humanos com necessidades e complicações que atrapalham a valorização do que temos ou conquistamos.
Há aqueles que têm a habilidade para tirar leite de pedras e os que têm do bom e do melhor, mas não tem a sabedoria para transformar a comodidade em felicidade.
Uma casa há de ter conforto, independente das posses ou de luxo.
Há de ter um jardim para aqueles que privilegiam as flores.
Há de ter paredes sólidas para os mais precavidos.
Há de ter amor para os que trocam tudo pela harmonia de um lar bem construído.
Muitas vezes independe da casa como construção. Quando estamos tristes não há flores, nem pássaros, nem luxo que amenize as dores.
Noutras vezes as belezas e os bens materiais podem distrair dos problemas.
Porque tudo está associado às expectativas de cada um e a forma como se lida com elas.
Há os que lutam para conquistar o que sonham.
Há os que passam a vida olhando para o que não tem e se lamentando.
O que nos resta é construir alicerces dentro de nós mesmos para driblar as dificuldades e sair à luta.
A história da minha família mesmo, que é comum, mas para mim é um exemplo de conquista.
Meu pai deixou o bairro da Penha, na Zona leste de São Paulo, com progresso de ruas pavimentadas e iluminadas (tinha até um cinema na rua, há mais de 65 anos atrás) para vivermos num bairro novo em região distante: norte/oeste, onde conseguiu comprar um terreno que foi diminuindo conforme a casa foi crescendo. Primeiro quarto e cozinha, depois a sala, depois outro quarto, etc.
A casa avançando no terreno comprido, sem projetos, mas funcional às nossas necessidades.
Quanta areia e tijolos nós crianças e muitas outras do bairro ajudamos a carregar em troca de doces da venda, com muita festa e alegria, para nossa casa ou de outros.
Vimos chegar as guias, depois as sarjetas e bem depois o asfalto. Água de rua então bem mais tarde.
Mas a casa era pintada todo ano quando se aproximava o Natal, por obra de todos. Pais e filhas e a lembrança de lavar o quintal, já anoitecendo, quando terminava o serviço.
Impossível esquecer e não comemorar essas lembranças.
Essa casa que meu pai deixou de herança  ficou alugada durante uns anos e a renda dividida entre as filhas para finalmente ser vendida, sem remorso nem dor porque o amor continuou na gente na casa que cada uma das filhas conquistou. No dinheiro da venda, muito bem recebido e distribuído, veio também o amor da herança, além da harmonia entre nós que é mais valiosa que qualquer imóvel.
Acabo sempre meus textos com a fala do amor porque acredito nele, apesar de tudo de amargo que a vida nos ensina, mais para uns do que para outros.
E feliz de quem tem uma casa sua para arrumar, enfeitar e, acima de tudo ter amigos e parentes para poder compartilhar. Ou histórias felizes como da nossa casa que tenho de herança e orgulho para contar.
Vera Lúcia de Angelis



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